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Até os 28 anos de idade viveu na Fazenda de Todos os Santos, distrito de Marruás, onde nasceu, de propriedade de seus pais, numa época em que a grande maioria da população de nosso país habitava no campo.

 

É o sexto de uma irmandade de onze irmãos (Abílio C. Mota; Alice; Ataciso; Agostinho; Isabel; Ademar; Mariquinha; Adauto; Absolon e Alaor). Teve mais dois irmãos: Laudi (sobrinha/irmã) e Edvar, também adotado por seus pais.

 

Frequentou as primeiras letras nas escolinhas das professoras Mavinieux e Mirosa. A elas, deve o aprendizado de ler e escrever; ainda se recorda do estilo severo com que as lições eram repassadas, mas, isso não lhe deixou nenhum trauma. As duas foram sempre lembradas como pessoas importantes em sua vida.

 

Cedo, Apolônio e os irmãos começaram a ajudar o pai no trabalho. Recolher o gado para os currais, plantar e ajudar em tarefas domésticas fazia parte das suas atividades. Numa das vezes, manejando equipamentos do engenho, fraturou um dedo da mão (até hoje guarda essa marca) e este foi mais um motivo para alertá-lo de que sua vocação era outra, diferente da tradição de várias gerações de seus antepassados, dedicados à agropecuária. Fugiu desse modelo, apesar de permanecer nessa atividade até os 21 anos de idade.

 

O ano era 1931 e Apolônio resolve conversar com os seus pais e pedir o apoio deles para fazer outra coisa. Pegou 03 vaquinhas suas e vendeu; montou uma pequena mercearia na Fazenda Todos os Santos, ao lado da sua casa. Mercearia Santa Rita, era como se chamava; logo virou uma loja de tecidos, também. 02 anos se passaram e o jovem comerciante prosperava.

 

Em 1933, transferiu seu ponto comercial para Vila de Marruás; as condições já eram bem melhores. Para se transformar no maior comerciante do distrito foi rápido. Comprava a maior parte da produção de algodão, mamona, oiticica, milho e feijão dos produtores da redondeza e formava grandes lotes de ‘comboios de animais’ (jumentos e burros) para transportar até as cidades de Mombaça e Senador Pompeu; lá, vendia tudo aos usineiros, que beneficiavam os produtos para revenda. Os ‘comboieiros’ voltavam para Marruás com novas cargas de mantimentos para abastecer o comércio e suas próprias residências; um deles montava o cavalo de boa sela que havia conduzido o proprietário da Loja a Mombaça ou Senador. Aproveitando o caminho da capital, Apolônio pegava o trem em Senador Pompeu e se dirigia a Fortaleza; mais um dia gasto em viagem para chegar ao destino. Quando retornava, todas as novidades da capital, em linhos e brins, além de outros panos menos sofisticados, enchiam as malas e pacotes que superlotariam a sua loja. Sempre vestido a caráter, em linho branco, manteve esse costume por várias décadas.

 

Durante todo o ano não faltavam os grandes forrós e sambas, puxados a harmônicas (sanfonas), rabeca, pife e pandeiro. Era nestes momentos que o jovem simples, que nunca perdeu a humildade, escapava pelo orgulho de ser bastante cortejado pelas moçoilas e não desperdiçava a oportunidade de namorar as sertanejas mais formosas que se apresentavam como ‘presas’ fáceis para o jovem galanteador. Nessas ocasiões se apresentava sempre com seu cavalo famoso e de boa montaria.

 

A juventude foi muito bem aproveitada; em duas ocasiões chegou a marcar noivado, mas, somente aos 28 anos (idade avançada para época) resolve se casar. Uma bela mulher, 10 anos mais nova do que ele, sua prima Ananias Cavalcante Mota, conquistou rápido o seu coração e não dava mais para esperar: no dia 14 de setembro de 1939, o seu amigo Padre Odorico, celebrou o matrimônio. Foram 70 anos de vida conjugal, compartilhados com muito amor e cumplicidade, sem jamais lhes faltar os valores sagrados de uma união abençoada por Deus. Espírito e matéria, sempre bem alimentados.

 

Um fato que lhe traz recordação foi a chegada do primeiro carro à Vila de Marruás – um Jeep Willys, de propriedade do Padre Odorico. Um dia que ficou para a história na festa de Santa Rita, naquela longínqua quarta-feira de 22 de maio de 1941. Os curiosos não continham a sua admiração e deslumbramento. Foi a vez do Padre faturar – cada passeio da Igreja até à várzea, localizada a cerca de 500 metros (ida e volta), custava Rs 1$000 (mil réis). A sacola do dono do Jeep voltou cheia de cédulas e moedas para a cidade e somente o cofre da Matriz lhe superou em arrecadação.

 

Os primeiros rádios apareceram ali na década de 40, da marca Zenith e Apolônio comprou o seu. Ouviam-se notícias de uma guerra de que se tinha conhecimento somente pelo ‘chiado do noticiário’. Em 1945, parava-se de falar da guerra e a família era abalada com o falecimento do seu pai Aureliano Cavalcante Mota, no dia 03/09; o coração surpreendeu ao homem que ainda se mostrava com todo vigor, mas ele não acordou naquela madrugada.

 

O comerciante de Marruás resolve enfrentar um novo desafio: em 1947, junta os pertences, coloca à venda e se muda para cidade de Tauá. A Casa Santa Rita agora tinha outras dimensões: fazia parte de uma nova realidade em que dividia com outros comércios similares o mercado local. Tudo correu muito bem e o prédio, antes alugado, foi adquirido em compra. Nesta época, havia trocado a luz da lamparina pela do motor, que funcionava entre as 18 e 21 horas; para outras necessidades, dispunha da lâmpada petromatic (outra novidade), que dava boa claridade, necessitando apenas que fosse abastecida de gás. A década de 50 foi quando aconteceu o nascimento da maioria dos filhos e uma grande casa, no centro da cidade, foi comprada para acomodar bem a todos. Ainda hoje pertence à família.

 

Nos anos 60, a Casa Santa Rita vai se firmando cada vez mais como uma tradicional loja da cidade; os filhos crescendo e estudando; e outra novidade: a luz de Paulo Afonso – 24 horas de energia elétrica disponível para os moradores. Foi um tempo de turbulências políticas. A ditadura impõe o bipartidarismo e os governistas se acomodam na Arena. A oposição ao regime tem o MDB como opção. Apolônio é um dos 25 membros fundadores do MDB de Tauá e se elege como presidente da executiva municipal. Em 1970, concorre à Prefeitura, mas, é derrotado nas urnas.

 

Anos 80 a Casa Santa Rita sofreu um incêndio destruiu parte da loja, sendo o prédio desta feita reconstruído em 02 pavimentos.

 

No ano de 2004, sua esposa Ananias passa a necessitar de cuidados médicos especializados e ele resolve lhe acompanhar e residir em Fortaleza. Não teve nenhuma dificuldade em se adaptar ao novo estilo de vida. Durante os últimos 65 anos ela foi uma companheira de todas as horas, inclusive em suas atividades comerciais. Só neste momento, ele com 94 anos e ela com 84, deixaram de trabalhar.

 

Depois de 73 anos ininterruptos do lojista, Apolônio troca os afazeres do comércio pela atenção exclusiva a esposa, que agora necessitava de seu apoio para enfrentar a enfermidade que lhe acometeu. Esteve ao seu lado, até os seus últimos dias, em junho/2009.

 

Hoje, “tio Apolônio”, como carinhosamente é chamado, vive em Fortaleza ao lado de seus familiares.

 

(Adaptação do texto escrito pelo sobrinho Anderson Francisco Cavalcante Mota, por ocasião do aniversário de cem anos).

 

Fotos:

Apolônio Cavalcante Mota

Tauá-CE, em 09 de fevereiro de 1911

Filho de Aureliano Cavalcante Mota e de Amélia Carvalho Mota

Tradicional comerciante de Tauá,

foi candidato a Prefeito de Tauá contra a Ditadura Militar

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